domingo, 5 de janeiro de 2014

Cartas Extraviadas

Como fã número 1 da Martha Medeiros, não poderia deixar de falar aqui sobre um dos melhores livros (na minha opinião) de sua carreira, e olha que nunca gostei de poemas ou coisas do tipo, mas o jeito como ela coloca os sentimentos pra fora, sendo em rimas, poemas, crônicas ou contos, fica digno de lágrimas e sorrisos ao ler. Bom, deixo aqui essa sugestão de leitura e abaixo algumas das melhores passagens desse livro extraordinário.

"saudade eu tenho do que não nos coube
lamento apenas o desconhecido 
daquilo que não deu tempo de repartir."

"eu diria do amor que o amor é reto
que o asfalto do amor acaba
mas o amor continua
desbravando o mato"

"um quase silêncio, o dia nublado
reflexo dos meus olhos em vidros embaçados
repentina clareza, vejo de ambos os lados
somos duas pessoas sentindo tudo errado"

"o adeus é parada cardíaca
que mata
o adeus é católico
ressuscita-nos
o adeus é sem beijos
gélido
o adeus é rápido
simplista
o adeus é reencontro
solitário
o adeus é festa 
do diabo
o adeus é básico
direto
o adeus é cúmplice
do tempo
o adeus é pra sempre"

"uma mordidinha para sentir o gosto
um cheirinho para sentir o perfume
um beijinho rápido, uma ilusãozinha
a quantos basta uma amostra grátis

não consigo molhar os pés apenas
eu mergulho e só paro quando me afogo
eu me queimo e só para quando derreto
eu me jogo e só paro quando me param
"

"quando dá tudo errado
visto uma camiseta e faço um rabo de cavalo
quando dá tudo errado
como pouco e tomo muita água
quando dá tudo errado
me masturbo e durmo até mais tarde
quando dá tudo errado
troco os lençóis
passo perfume francês
faço as unhas das mãos e dos pés
e dispenso penitência
já que não deu tudo certo
coloco um disco que gosto
escolho uns poemas que toquem
e os releio deitada no sofá
tudo errado que dá
é consciência"


"primeiro toco você ou
você me toca em janeiro?
janeiro será tarde demais
ou será mais verdadeiro?"

"há momentos em que nossos valores se rompem
certezas se estilhaçam como cristal
viram pó nossas absurdas convicções 
princípios só se justificam no final"

"um presente, o amor que acontece ao mesmo tempo
ele por ela, ela por ele, um pelo outro, vigilante
um amor em que ele a quer, ela o deseja, homem, mulher
um presente, o amor que resiste ao inconstante"

"desperto no escuro, ainda é cedo pra acreditar
que vai haver futuro e que vale a pena"

"do amor falou-se tudo e sigo e segues
entendendo quase nada, tudo é pouco diante
da incompreensão do que existe sem nome
será mesmo amor o nome disso que sinto e sentes?
disso que sinto e sentes falou-se tanto
e sigo desconhecendo bastante
de mim e de ti que sinto e sentes tudo isso
de que falamos tanto e perseguimos errantes"

"os sentimentos estão com fome e viciados"

"fartei-me de mim
sensibilidade demais
fadiga"

"foi um pequeno grande amor
daqueles que têm tamanhos para todos os lados
e só podem ser medidos por dentro"

"de novo esta breve pausa entre um amor e outro
terei dias de vento e noites de embriaguez pela frente"

"nunca mais
é a expressão que durará pra sempre"

"sumi porque só faço besteira em sua presença, fico mudo
quando deveria verbalizar, digo um absurdo atrás do outro quando
melhor seria silenciar, faço brincadeiras de mau gosto e sofro
antes, durante e depois de te encontrar


sumi porque não há futuro e isso não é o mais difícil de
lidar, pior é não ter presente e o passado ser mais fluido que o ar

sumi porque não há o que se possa resgatar, meu sumiço é
covarde mas atento, meio fajuto meio autêntico, sumi porque
sumir é um jogo de paciência, ausentar-se é risco e sapiência,
pareço desinteressado, mas sumi para estar para sempre do seu
lado, a saudade fará mais por nós dois que nosso amor e sua
desajeitada e irrefletida permanência"
Postado por Paula Lopes

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