terça-feira, 29 de abril de 2014

Por um mundo com menos “a gente se vê” e mais “abre a porta que cheguei”

Acontece que um belo dia, perdido entre o que foi e o que poderia ser, você acorda cúmplice de uma espera. A expectativa de um telefonema, uma carta, mensagem de texto, um adeus, qualquer coisa capaz de consumir definitivamente aquela angústia e colocar fim na tormenta que já se estende por semanas. E nada. Porque a espera é isso, um grande nada recheado de todas as caraminholas passíveis de viver no coração de alguém. Ainda assim, a sensação de preenchimento e plenitude desencadeada pelo apego domina toda e qualquer atitude racional pronta a desabrochar, e o suspiro vem fundo, mentindo no ápice do alívio, que está tudo bem em te esperar. Enquanto isso o mundo está lá fora te provando que nada pode ser melhor do que eu, nós e o que construímos até aqui, apesar de você insistir em me colocar no banquinho do depois. E eu como mocinha comportada que sou fico ali aguardando a hora de sair do castigo. Porque não existe punição maior para quem procura reciprocidade do que comprar o ingresso do parque e precisar enfrentar uma fila quilométrica para andar no brinquedo tão esperado apenas por breves segundos.
O fato é que quem gosta não espera e isso foi lição aprendida depois de muita lágrima derramada no cantinho escuro do quarto. O amor é um dos sentimentos mais urgentes do mundo. Exige, demanda, ele praticamente abraça a eternidade no espaço pontual daquela euforia. Porque ele quer e quer no exato momento que a adrenalina avisa para o corpo que tudo aquilo que ele sempre esperou se encontra ali, entre uma escolha e outra, apenas aguardando um sinal de entrada. O amor transborda presença. Nada de “eu quero passar o resto da vida com você, mas não agora”, nada de “eu gosto de você, porém não sei se devo assumir um relacionamento neste instante”, nada de “estou com saudades, mas infelizmente sem tempo para te encontrar essa semana”. Amor é coisa poderosa demais. Força de vontade também. Não existe trauma, frustração, dúvida, decepção no mundo capaz de lutar contra um sentimento quando existe reciprocidade. Da premissa mais conhecida: quem quer faz, quem não quer arruma uma desculpa. Simples assim.
Bem como diz aquele filme que eu adoro: “quando a gente descobre que quer passar o resto da vida com alguém, a gente deseja que o resto da vida comece logo”. A dura verdade é que enquanto você está aí atrás da porta, como uma criança a espera do brinquedo novo, ouvindo o barulho dos passos que sempre se aproximam, mas parecem nunca abrir a porta de fato, os pés do outro dançam pelo mundo afora. Enquanto você é refém de uma indecisão e marionete dos caprichos daquele alguém, o universo segue sua órbita e apenas seu coração permanece suspenso no banquinho ao lado da porta ansiando por uma brecha para a grande estreia naquele palco.
Então não, não vale a pena “esperar” por ninguém. Porque se você precisa provar a alguém seu valor para que uma decisão seja tomada, se você precisa literalmente parar sua vida esperando uma chance de finalmente sambar a dois. Se sua autoestima bem como suas vontades são negligenciadas durante o processo, e se o sentimento do outro é forte o bastante para sustentar uma espera, talvez este sentimento não seja verdadeiro o suficiente para fazer morada na sua vivência.
Ou você quer, ou não. Não existem meios termos, muito menos meias verdades. Bem como a gente secretamente deseja o lado da moeda no momento em que a joga para cima, no fundo, a gente sempre sabe o que quer, apenas demora um pouco mais para assimilar aquela escolha e suas possíveis consequências. Afinal de contas descer do muro e decidir por um dos lados da estrada invalida de certa forma inúmeras possibilidades de felicidade presentes no caminho deixado para trás. Propor uma espera nada mais é do que uma tentativa frustrada de se apegar a um plano B, caso todas as outras travessias deem errado. Além de cômodo é a máxima falta de respeito com a permissividade do outro. E se tem uma coisa que a gente não é obrigada nessa vida é a esperar pra ser feliz.
Aceitar o descompasso e seguir adiante. Amor não é barganha e definitivamente não sabe esperar. Não importa se o relacionamento é antigo ou se o sentimento está pedindo passagem nesse exato momento. Parar de ocupar o caminho com uma presença incompleta e deixar partir aquilo que não encontrou espaço na sua vivência. A vida é transitória demais para mirar o passar das horas através de um banquinho atrás da porta. Coragem para aceitar a única certeza inquestionável do amor: o livre arbítrio de ser, estar, permanecer. Que seja aqui e agora, enquanto existe vontade, não na imprevisibilidade do amanhã. Qualquer coisa diferente disso é migalha, perda de tempo e invariavelmente descaso com o sentimento mais importante do mundo: o amor próprio.

Danielle Daian
Postado por Paula Lopes

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