A gente nunca sabe como será o grande encontro. Pode ser que chova fininho e os cabelos levemente molhados desencadeiem uma troca de sorrisos embaixo de um mesmo guarda-chuva naquela esquina movimentada da cidade. Pode ser que o sol ardente queime as bochechas bem devagar, que é pra esconder o rubor do olho no olho. Talvez seja carnaval, dia santo ou um fim de semana aparentemente perdido num ano qualquer. Às vezes já se sabe no primeiro sorriso. Outras vezes a empatia demora um pouquinho pra se manifestar e só sai da toca depois dos primeiros indícios de reciprocidade. Pode ser que o metrô atrase, o carro quebre ou simplesmente você esteja 10 minutos adiantado para tudo que decidiu fazer naquele dia. Quem sabe seja pra sempre, ou talvez, só talvez, dure o infinito de um breve segundo. Era ele. Era ela. Eram ambos. A verdade é que a gente nunca sabe o instante em que vai cruzar o caminho daquele (a) que vai marcar a nossa vida pra sempre. A pessoa que vai prevalecer na alma, mais do que na presença concreta. A referência emocional mais sólida ao longo de toda a nossa travessia. Sim, este é mais um texto sobre o maior clichê da humanidade: o amor. E se você não gosta de estar no lugar-comum, aconselho a deixar esta leitura de lado por aqui.
É que na vida a gente se apaixona milhares de vezes, revira os olhos outras tantas, perde o fôlego, o ar, o par em diversas ocasiões. Mas amor, amor mesmo, aquele de fazer doer o fundo do peito, esse não passa todo dia na janela de casa. Acho até que ele faz uma dança pelo salão, te tira para dançar e, se a melodia acaba junto com o compasso, ele sai pela portinha que entrou, deixando um vazio que só o tempo é capaz de preencher. Não estou falando de paixonites ou pequenos embaraços, mas sim daquela pessoa que vai modificar todo o seu conceito de amor e relacionamentos. O protagonista das lágrimas abafadas no travesseiro durante a noite que fazem a gente esmorecer feito o bicho mais acuado. A peça principal de um quebra-cabeça que muitas vezes perdeu diversos encaixes ao longo do caminho, restando apenas uma moldura abstrata de um quadro que tinha de tudo para ser perfeito. Gente que simplesmente fica. Fica na alma, na calma, na paz e no desassossego. Gente que se faz presente mesmo na mais absoluta ausência.
Ninguém passa pelas nossas vidas à toa. Algum objetivo maior o universo tem com essa bifurcação de caminhos. Não acredito em acaso. Acredito em troca, parceria, cumplicidade, merecimento. Sentimentos que criam vínculos, fundamentam histórias. Muitas vezes a lição é contínua e perdura por anos, em outras, a caminhada a dois chega ao fim muito antes do previsto, e o adeus deixa de ser despedida para se tornar recomeço. Recomeço de um amor que finda seu ciclo conjunto para se tornar morada de uma saudade. Essa pra mim é a real definição de amor dentre tantas que já foram feitas ao longo dos séculos. Amor é o que fica daquilo que não ficou. O que é verdadeiro dificilmente se vai – pelo contrário, vai relembrar sua permanência de forma nada discreta naquela manhã de segunda-feira, após uma visita até a padaria, onde aqueles olhares cheios de cumplicidade se cruzarão novamente. No melhor estilo filme mudo, em que se conhecem as falas independente da cena, tudo aquilo que estava adormecido despertará. O coração aperta, o silêncio ensurdece, mas cedo ou tarde as emoções retornam para suas respectivas “caixinhas”. Acreditem ou não, é a forma que o amor encontra de encerrar ciclos e se acomodar no coração de forma a não ser mais espinho, mas sim uma delicada flor.
A verdade inconveniente é que todo mundo tem um alguém particularmente especial que vai levar para sempre dentro do coração. Seja pela história, parceria, entrega ou até mesmo pela vírgula deixada no final de um parágrafo que merecia um ponto final. Amor mesmo, no grosso do sentimento, permanece enraizado nem que seja escondido debaixo de um monte de sentimento mal resolvido. Felizmente, a maior dádiva da vida é que ela continua. Você se depara com outros grandes encontros, pessoas, novas histórias e com outras facetas do amor que talvez você nunca chegasse a conhecer se não fosse toda a experiência transformadora que viver este sentimento proporciona.
Não existe nada sobre o amor que já não tenha sido dito, escrito, cantado, cifrado ou assinado em lágrimas. Acho até que se existisse um manual sobre isso, sobre tudo que aconteceria no decorrer e após a passagem do furacão, talvez fossem poucos os tripulantes desta embarcação sem rumo. Poucos os que conseguiriam suportar a calmaria após a doce tempestade. O segredo para continuar navegando? Aprender a conviver de forma saudável com esse pedacinho de memória que pulsa no coração da gente. Se permitir vivenciar todas as fases desse sentimento para que a transição “passado-futuro” seja bem confortável. E amar sempre e muito, porque amor correspondido é o laço de fita que enfeita o presente, desata os nós, traz o sonho de um amanhã mais doce e guarda lembranças tão gostosas que terminam sempre na ponta solta de um sorriso sincero.
Danielle Daian
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