Dia desses, olhando fotos antigas e a minha velha pasta de músicas de cinco anos atrás, percebi o quanto eu cresci – é que o amadurecimento tem dessas, é mensurável pelas coisas mais simples.
Reparei no meu cabelo escovado no porta-retratos. No salto alto e na cara de sofrimento, provavelmente pelas dezenas de calos nos meus pobres pezinhos. Ou pela pose que tinha de ser mantida, por tudo o que me impedia de me exceder na bebida (ou, aliás, de me exceder em qualquer coisa que fosse). Talvez pelo cara bonito com quem eu não poderia puxar assunto, pois, eu precisava esperar ele vir me convidar pra dançar.
Quais eram, afinal, essas grades invisíveis que me aprisionavam? Que força horrenda mantinha meus pés dolorosamente equilibrados naqueles saltos 15? Pra quem eu precisava provar que eu era esguia, comportada e tinha absoluto autocontrole? Na verdade, eu não pensava sobre isso na época – e, mesmo se pensasse, provavelmente eu não encontraria essas respostas.
Mas, depois de muitos calos, eu as encontrei: É que chegamos a uma fase da vida em que não precisamos provar nada pra ninguém. É quando a gente escolhe, constantemente, as sapatilhas. É quando a gente se joga de cabeça sem medo de sair descabelada. É quando a gente não tem medo de perder, por que a gente entende que não há o que ser perdido. Não há nada em jogo além da felicidade. E como ser feliz quando não se é livre?
É claro que o salto alto é bem-vindo, porque, convenhamos, nos deixa absolutamente sexys como num passe de mágica. Mas, entre estar confortável e impressionar alguém, a gente não pode mais titubear na resposta. É preciso optar por si mesmo.
A gente olha pros lados e não procura um olhar de desejo ou de despeito – a gente procura um novo drink, um novo amigo, um novo livro, um novo lugar, uma nova música… A gente entende que o que os outros pensam ao nosso respeito não nos diz respeito.
E a gente entende, sobretudo, quanta beleza há em estar confortável. Na cara lavada, nos pés no chão, nas roupas menos justas (e não menos sexys), no corpo de quem se cuida sem esquecer – nem por um segundo – de ser feliz.
E que o que importa nessa vida é cuidar da gente e de quem cuida da gente. Que dá pra sair sem protetor solar de vez em quando. Dá pra assumir o cabelo natural. Dá pra usar chinelo de dedo. Dá. Dá pra dar no primeiro encontro. Dá pra se exceder na bebida de vez em quando – ou quase sempre, por que não? Dá pra viver, reviver, começar tudo de novo. Dá pra amar, dá pra sonhar. Dá pra ser feliz.
Nathalí Macedo
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