Olha, eu não queria falar nada, mas ainda há vida lá fora. E ainda que também haja colo, sempre que precisar, é preciso de si próprio para sacudir a poeira de vez em quando. Ferida de amor dói, ô se dói, algumas marcam pra sempre, algumas nunca passam, algumas doem mais que qualquer outra dor, mas ó: ó a vida passando, entre uma lágrima e outra, entre a indecisão de ficar aqui, seguro, ao lado dos próprios cacos, e ir. Sabe? Ir. Sabe-se lá Deus para aonde.
Superar amor envelhecido, remoído e maltratado é sempre uma tarefa mais nossa do que do mundo. Porque as horas ainda passam, ainda há dias de sol e de chuva (talvez nem tanto em São Paulo, mas há), ainda há nuvens pretas, e frio, e calor, e a primavera chegando. O mundo tá ali, fazendo a parte dele, cumprindo a tabela, esperando só a hora de você levantar e decidir fazer alguma coisa da vida. O despertador toca toda manhã numa pergunta sem fim: e aí, é agora que você vai cansar de ser infeliz?
Na teoria, sempre fácil. Mas é que dor emocional é coisa só nossa. Não tem merthiolate que dê jeito. No máximo, a gente arranja essas pessoas-curativo, que sempre parecem ser a solução de todos os problemas. Nada-como-um-amor-novo-para-superar-o-antigo, costumam dizer. E a gente esquece que band-aid arrancado da pele na pressa faz lembrar a dor do corte. Atrasa o processo de cicatrização. E não sara. Não passa. Cadê a cura?
Se a gente soubesse a fórmula de não se magoar por amor, talvez a gente também já tivesse inventado a vacina. E viveríamos assim: sem caras quebradas, mas também sem grandes paixões. Porque amor, no fim das contas, é processo de entrega. E se entregar é correr sempre o risco de cair no caminho. Quebrar. Chegar atrasado ao destinatário. Pior: correr o risco de ser devolvido ou trocado sem nenhuma consideração.
Ou então correr o risco de receber, também, algo de bom em troca. Talvez, sei lá, um presente como um coração - pronto pra tudo.
Tudo isso pra te falar que: a maioria de nós, mortais, passa por isso. E tem choro, e tem grito, e desespero, e vontade de nunca-nunca-nunca-nunca-mais. Mas ainda há vida lá fora. Outras histórias. Outros porres. Outros amores. E dezenas de amigos. E gente que sabe, talvez só um pouco, o quanto dói por aí. E se ainda doer também por aqui, não tem problema: a gente sofre junto. Porque, como ouvi uma vez (em um contexto completamente diferente): na desgraça, a gente se abraça.
E o mundo continua girando.
Karine Rosa
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