domingo, 8 de dezembro de 2013

Pra sempre

Achar que uma coisa é pra sempre não é necessariamente esperar que ela seja eterna. Ela simplesmente pode ser tão intensa naquele momento que a única definição que você encontra praquilo é "pra sempre". Um momento onde você e um amigo estão ouvindo música e conversando e se amando, é pra sempre. Um momento onde você está com uma amiga e você não queria estar em nenhum outro lugar do mundo, é pra sempre. Ou quando você está dentro do abraço de uma pessoa que você ama tanto que chega a doer, é pra sempre. Mesmo que esse pra sempre acabe semana que vem, isso foi infinito enquanto durou.

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sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Tristeza

Quando a tristeza é tão grande que a morte passa a ser uma ideia considerável. Ou no mínimo aceitável, ja que lá é um lugar neutro. Não existiria mais dor ou decepções ou expectativas em cima de pessoas e situações que simplesmente não se importam.

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sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Os laços invisíveis que havia

É tarde de domingo. O calor de final de ano já começou a me irritar, mas ligo o ventilador enquanto sento no chão do quarto e reviro o meu passado. Vejo a foto daquele professor que a vida levou para algum lugar melhor – ou é isso o que nós gostamos de acreditar. Odiávamos suas aulas, suas broncas, seus eternos testes de lógicas toda sexta-feira. Mas choramos como crianças quando, dez anos depois, soubemos que ele havia partido. Aliás, falar no plural, como se ainda estivéssemos juntos tantos anos depois é dessas mentiras bonitinhas que gostamos de nos contar. Eufemismos para o coração.
Se eu me concentrar bem, ainda escuto os sons das risadas naquela foto de turma da quinta série, do lado de fora do colégio. Mas é preciso prestar bastante atenção, ou a lembrança escapa pela porta e não volta mais. Fica no canto esquerdo da foto, bem do lado de cima, perto do sol. É ali que mora o play da memória, que me leva de volta a um tempo de problemas fáceis, risadas compridas e brincadeiras de crianças fingindo que eram adolescentes. Dá para me transportar de novo pra lá se eu ficar assim, bem quietinha. Eu juro.
Fechando os olhos, eu ainda sinto os abraços dos amigos que ficaram pelo caminho. Não sei muito sobre a maioria deles. Alguns casaram. Outros tiveram filhos. Outros foram morar em países distantes. Outros apenas sumiram. Não rolou nenhuma briga, nenhum desentendimento, nenhuma raiva ou rancor. Apenas seguimos caminhos diferentes, viramos em ruas sem retorno, deixamos que o tempo guardasse o que era só passado e fomos viver o futuro. A vida não se resume apenas ao tempo de escola. Aliás, a vida não se resume.
Mas talvez uma parte da vida vá ficando ali, na minha caixa de recordações, revirada em um domingo qualquer, quando a saudade bate. E um sorriso tímido aparece no meu rosto, enquanto todas as memórias passam na minha cabeça. Os segredos, as brigas bobas, as gargalhadas, as piadas, as festas. Os anos que dividimos juntos, lado a lado, e que parecem tão longe e tão “logo ali” ao mesmo tempo.
É domingo. 2013. Acabei de fazer 22 anos. A vida mudou muitas vezes neste tempo todo. Mas, numa tarde de novembro, eu reviro as lembranças e vejo que todo mundo que passou tem sua importância. Até quem não ficou, até quem bateu a porta, até quem machucou. Um dia, parece mentira, mas a gente lembra só das coisas boas. E é como Leo Jaime e Leoni cantaram: “o que vai ficar nas fotografias são os laços invisíveis que havia. As cores, figuras, motivos. O sol passando sobre os amigos. Histórias, bebidas, sorrisos. E afeto em frente ao mar”. Acho que é isso o que importa. Não é?
Karine Rosa
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segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Viver

Tecnicamente é um quadrado macio e confortável e coberto por um lençol macio e aconchegante com o cheiro de segurança por estar com alguém especial. E você e a pessoa se encontram e se perdem ali, em um mesmo momento. E conversam e se entendem e brigam e se viram do avesso para o outro. E um se arrepende e se vira, na famosa conchinha. E o outro se rende e recomeça a troca de carinhos e chamegos e amor e tesão. Sentir isso tudo intensamente e ao mesmo tempo com certeza não é pra qualquer um. É pra quem está disposto a fica nas pontas dos pés à beira de um precipício. É pra quem está disposto a viver umas poucas horas de bons momentos e depois sofrer por algum bom tempo pelas próprias lembranças. Li em algum lugar e dou total razão à frase: "seu maior inimigo é você mesmo." Você pode ter boas amigas ouvintes pra quem você vai desabafar e chorar e reviver mágoas passadas. Você pode ir à terapia toda semana, se permitir à ajuda de um especialista e aceitar essa ajuda na sua vida. Você pode ser a fiel à Deus, ir à missa todo domingo, pagar o dízimo e rezar o terço antes de dormir. Isso. Chegamos ao ponto e a chave de tudo. Você pode fazer isso tudo e ainda mais, porque nada disso vai acabar ou amenizar ou extinguir aquele vazio que você sente exatamente quando deita a cabeça no travesseiro, aí não existe amigo, terapeuta, deus, religião ou boa ação que te faça sentir melhor. É nesse momento que você mesmo se coloca lá naquele famoso pior lugar do mundo. Não adianta você tentar se reafirmar pros outros, mostrar sua felicidade ao mundo ou se sentir bem com outras pessoas se primeiro você não souber quem você é pra você mesmo; se sentir feliz com você mesmo ou caber dentro de si. Eu sei que isso é o clichê dos clichês mas, pasmem: clichê é verdade. E a gente às vezes se esquece de umas verdades que vez ou outra é bom se lembrar. Então, na cama aproveite a companhia, converse, faça carinho e depois morra de saudades (ou de qualquer sentimento) desses momentos. Melhor isso do que no dia tão especial, não ter acontecido exatamente nada de especial.

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I'm back bitch

Caçando uns apps pra baixar no meu celular, me deparei com o blogger e resolvi baixar pra poder voltar com esse blog. Não to escrevendo isso pra ninguém ler, escrevo exclusivamente pra desabafar pra mim mesma e no futuro, ler e relembrar todos os sentimentos que me levaram a escrever isso agora. Então, estou de volta. Gostaria de lembrar a mim mesma do futuro que hoje é meu primeiro dia oficial com dezessete anos, to naquela fase com insônia terrível e que passa tbbt mike&molly e gossip girl no sbt a noite. Essa também é aquela fase em que escuto rewind ou tempo perdido e desabo. Enfim. Espero que aí, do futuro, tudo esteja um pouco mais suportável.

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sábado, 5 de janeiro de 2013

All Star Vermelho

Desamarrei o cadarço do meu All Star vermelho e fui andando de meia até a cozinha. Minha mãe me mataria se soubesse, mas ela está longe demais e agora quem cuida das minhas roupas é a pobre máquina de lavar. Abri a geladeira e passei o olho em cada partezinha. Nada que fosse gostoso e fosse meu. Talvez umas frutas estragadas ou umas carnes congeladas.  Resolvi beber água. Li uma reportagem dizendo que temos que beber não sei quantos copos por dia. Aquele era o meu primeiro e faltavam minutos para meia noite. Voltei em silêncio para o quarto e fechei a porta. Não era para bater com força, mas a janela estava aberta e o vento resolveu interromper o silêncio de horas do apartamento. Pensei um palavrão bem feio. Em frente ao espelho, tirei a blusa e joguei em algum lugar aleatório. Talvez em cima da montanha de roupas que estava prestes a nascer. Abri a gaveta e busquei por algo confortável. Que não me lembrasse o quanto meu quadril aumentou nos últimos meses. Uma blusa do carnaval de 2008.  Pelo tamanho, provavelmente do meu irmão. Vesti. Abri todas as gavetas do móvel em busca de um elástico. Na última, encontrei um quase arrebentando. Eu nunca gostei do meu cabelo preso, com rabo de cavalo, mas em dias como esses, sei lá porque, sinto vontade de fazer. Fui até a janela e pela primeira vez no ano, reparei nas pessoas. Passando depressa, passeando com seus cachorrinhos ou esperando alguém. O que será que elas estão pensando? Hora dessas, eu queria era ser o professor Xavier. Mas já quis mais. Quando era pequena, por exemplo, e não me encaixava em nenhum grupo na escola. Queria saber o que as garotas pensavam para dizer e me parecer com elas de alguma forma. Bom, acho que hoje descobri e continuo aqui. Sem me encaixar com grupos, lugares e horários. Dizem que é tão fácil. É só continuar sorrindo e concordar. Eu observo, participo, curto, compartilho, mas continuo aqui. Nesse caso, ali, comigo mesma. Olhando da janela para fora. Tentando não olhar só para dentro. Tá frio. Melhor fechar o vidro e deitar. Quanta besteira na cama. Agora, besteiras no chão. Minha cama. Coluna retinha. Que sensação boa. Em pensar que em algum dia da minha vida eu odiei dormir. Opa, quem vai apagar a luz? Aí, meu pé, que bagunça, pisei e quebrei alguma coisa. Espero que não seja meu celular. Cadê meu celular? Onde eu deixei minha bolsa? Tentando lembrar e voltando no tempo. No Sofá. Abrindo a porta do quarto bem devagar e voltando bem rápido para gata não entrar. Aqui está você. Será que alguém ligou? Espero que não. Odeio receber ligações. Nunca atendo nem retorno. Me escreve. Por falar nisso, será que ele enviou uma mensagem? Aposto que percebeu que estava errado. Que foi moleque. Que deveria ter feito alguma coisa para mudar o desfecho daquela noite. Para não ser completo desperdício de maquiagem, que por sinal, eu nem tirei. Meia noite. Em ponto. Nenhuma mensagem. Ninguém pensando em mim. Hora de dormir e fazer a digestão desses sentimentos. Talvez, acordar com amnésia ou ressaca moral. Coluna esticada. Viajando em pensamentos. Em km. No passado. No destino. Nos meus sonhos. Está ficando tarde. Está ficando escuro. Adoro o cheiro do meu travesseiro. O mesmo do meu shampoo. Que droga, do meu shampoo que acabou. Preciso comprar outro logo. Amanhã. Cedinho. Quando eu acordar. Quando.

Bruna Vieira
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quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

2013

ano novo vida nova mudanças e blá blá. mas pra mim todos esses clichês são verdadeiros. to mudando de volta pra minha casa, trabalhando e com poucas amizades, mas verdadeiras. to me sentindo diferente, vendo o mundo de um jeito diferente, e tomando atitudes diferentes. tudo que eu quero pra 2013 é ser surpreendida, e poder chegar no dia 31/12/2013 e pensar que tudo valeu a pena!
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terça-feira, 27 de novembro de 2012

Mais uma carta de agradecimento

Sabe, nem sei como começar a te agradecer por todas as coisas que aprendi nesse tempo em que estivemos juntos. Obrigada por me ensinar a sorrir com vontade e a viver com alegria. Acho que sem você eu jamais descobriria que meus sorrisos não passavam de meios sorrisos, e que minha alegria não tinha sequer um motivo. Obrigada por se tornar minha inspiração nos momentos em que nada parecia fazer sentido, pensar em você me faz imaginar histórias, imaginar histórias me faz escrever. Obrigada por me fazer rir de coisas bobas e por me ensinar que a companhia vale muito mais do que qualquer coisa. Com você sei que posso me divertir em qualquer lugar, a qualquer momento. Obrigada por ser igual a mim, daqueles malucos que falam e cantam sozinhos. Agora cantamos juntos. Obrigada por me fazer dormir quando os pesadelos e preocupações insistiam em tomar conta. Obrigada pelo seu cheirinho que fica no meu travesseiro toda vez que você vai embora. Obrigada pelo carinho e amor que você consegue transmitir em um olhar. Obrigada por me entender todas as vezes em que estive errada e por nunca desistir de mim. Obrigada por ter aparecido na minha vida de forma tão abrupta e por ter permanecido de forma tão permanente. Obrigada por ter me mostrado o que é paixão, aparecendo assim na minha vida, quando eu estava desacreditada de tudo. Obrigada por me lembrar que eu tenho um coração, e bem, hoje ele bate por você. Obrigada por todas as vezes em que você acreditou que eu seria capaz e que disse que eu conseguiria. Eu realmente consegui. Obrigada por todas as vezes em que me aguentou de TPM. Sei que não deve ter sido fácil. Obrigada pelo carinho que você tem com a minha família. Ver as pessoas que mais amo no mundo juntas é uma das coisas que mais me dá alegria. Obrigada por todas as madrugadas em que você me fez companhia. Ter insônia sozinho é ruim, mas ter insônia a dois é demais. Obrigada por todas suas dancinhas, suas bobeiras, por ter me ensinado a gostar de Batman, por ter me feito gostar de Seal, por me ensinar a ser um pouco menos inocente, por ser fofoqueiro junto comigo, pela confiança que você tem em mim, por me levar na aula em dias chuvosos, por me apoiar no meu trabalho, por ser meu melhor amigo, meu melhor namorado. Obrigada por assistir meus seriados comigo mesmo sabendo que você vai odiar, obrigada por me aguentar  falando na sua cabeça 24 horas por dia, obrigada por tratar bem minhas amigas, obrigada por cuidar de mim quando fico doente, obrigada pelo sorriso que você dá ao me ver. Obrigada pelo seu sotaque de carioquinha, por zoar meu sotaque de mineira, pelos cafunés, pela fungadinha de cachorro que dá no meu ouvido, por me fazer cosquinha mesmo sabendo que eu odeio, por entender meu trauma com escadas, por aceitar que eu coloque Katy Perry no seu carro e por ser quem você é.

Obrigada por me lembrar todos os dias o quanto você me ama. Às vezes é bom ter certeza que nossos sentimentos são correspondidos. Obrigada por ter aparecido na minha vida como quem não quer nada, ter bagunçado meus sentimentos e me feito a mulher mais feliz do mundo. Hoje, posso dizer que conheço o amor. E devo isso à você, Guilherme. Feliz 1 ano e 6 meses juntos. Te amo. Sempre e pra sempre. E ah, acima de tudo, obrigada por me mostrar que distância nenhuma é capaz de impedir um amor.

*Texto dedicado ao meu namorado, Guilherme, em comemoração ao nosso aniversário de 1 ano e 6 meses. Acreditem, o desapego um dia vira um grande amor.

Parabéns Isabela Freitas pelo seu melhor texto, e por expressar tudo que eu estou sentindo.
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domingo, 25 de novembro de 2012

A arte do desapego


Há um ditado que diz que o verdadeiro amor está na renúncia. Porque se nada nessa vida é permanente, não há lógica em esperarmos que os amores o sejam. Nosso lado romântico torce para isso afinal, ninguém começa uma relação já pensando em quando ela vai terminar. Ainda bem.Essa embriaguez que o início das paixões provoca na gente nos permite viver o hoje, em vez de focarmos num futuro que não nos pertence ainda. E quando entendemos que o que temos é somente o agora vivemos cada segundo intensamente, pois ele nunca mais vai se repetir.
Enquanto o agora for feliz, vale a pena. Mas no momento em que ele deixar de provocar felicidade, precisamos aprender algo que só a experiência nos ensina: deixar ir. Nunca é fácil. O cheiro do outro parece insistir em permanecer pela casa. Tem o livro que ele esqueceu na estante. A camiseta da qual você se apossou. Aquela bolacha de aveia que ela adorava – e você não – e que hoje mofa na dispensa. Tem o relógio que bate 21h todos os dias – a hora em que vocês se falavam a noite. Tem o vazio na parede do porta-retratos que foi parar numa caixa escura. Tem o vício da companhia do café depois do almoço. Tem a paçoquinha que ele te trazia todo dia quando chegava em casa. Tem a cama de casal que agora parece vazia demais.
Dói. Pode parece bobagem, mas é extremamente difícil nos livrarmos desses pequenos fragmentos do passado que carregam com eles memórias – algumas boas, outras nem tanto, mas todas remetem a uma coisa que deixou de existir e que, portanto, deixou saudades. Mas somente desapegando conseguimos virar a página. Não dá pra levar as pastas e os arquivos do trabalho antigo pra o trabalho novo. Para que coisas novas possam chegar, é preciso deixar ir. 
E quando o novo chega, você finalmente entende a importância desse processo. Você percebe que o vazio que pareceu ficar com o desprendimento foi logo ocupado por algo que te trouxe felicidade. De repente as memórias que doíam tanto hoje não doem mais. A ferida fechou e fez surgir uma nova pele. E com ela, promessas de um futuro bom.
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Contra o amor

O início pode parecer um tropeço, já que ninguém são vai ser contra o amor, mas há os que, em lapsos de mornas temperaturas, opõem o amor e a paixão. E se o conflito é esse, o título é uma escolha de lados.
A paixão é sempre avassaladora, traz o nosso melhor, o nosso pior, e não deixa saber qual é qual. O amor é uma lareira quentinha que arde continuamente, estável, serena. E quem pode ser contra as lareiras quentinhas, senão os loucos? A paixão é como se toda a energia da lenha queimasse de uma vez, em um brilho que cega e tudo consome, como uma supernova. Depois, talvez só haja lenha em outras constelações, pode aparecer mais lenha, infinitamente, ou pode não sobrar nada jamais. Observe um apaixonado e você vai ver alguém que não está mais de posse das suas faculdades mentais, ou mesmo do mínimo de autocontrole.
Dizem que a paixão é tóxica, e ela é, mas e daí? Nós amamos as drogas. E somente a embriaguez da paixão é digna de arte. O amor, para ser arte, só se for difícil, como os do Calvino, não realizado, como os desprovidos de entrega, ou mesmo completamente impossíveis. Os amores possíveis começam a morrer no dia em que se concretizam, segundo um tal de Eça de Queiroz. Há controvérsias, só que, de fato, nada jamais chegará aos pés do amor que não acontece, este sim mais idealizado que a mais brutal das paixões.
As pessoas falam em histórias de amor e o assunto sempre esbarra em Romeu e Julieta. Até que eu li por aí: “Romeu e Julieta não é uma história de amor. É um romance relâmpago entre uma menina de 13 anos e um carinha de 17, que dura três dias e termina com seis mortos”. É a paixão que torna a história saborosa, assim como a vida. História de amor, amor mesmo, são os primeiros cinco minutos de “UP – Altas aventuras”. É lindo de chorar, mas é isso, cinco minutos de filme. O resto são cachorros falantes no fim do mundo, e nostalgia.
Alguém disse que viu mais amizades que paixões se transformarem em amor. Será? O universo da amizade é muito maior, por ser plural, e existem mais amizades que paixões. Mesmo assim, senão uma fração daquelas se transforma em amor. As que se arriscam, em geral, sofrem de unilateralidade e exílio na “zona da amizade” mesmo.
Esperar que o amor venha da amizade, sem uma paixão devastadora junto, é uma das coisas mais mornas e acomodadas que já ouvi falar. É como uma apólice de seguros. É o amor servido como uma dobrada fria. Você ir fazendo um “filtro de compatibilidade” do seu círculo de amigos, que já são pessoas por quem você tem apreço, até que isso se torne, suavemente, uma opção amorosa, equivale a tratos do tipo “se eu e você chegarmos solteiros aos 40, a gente casa um com o outro, tá?”
Apaixonar-se é dar murro em ponta de faca mesmo. A paixão não cega as pessoas para os defeitos dos outros. Como poderia? O que ela faz é aumentar a nossa capacidade de relevar, de não dar a mínima, de nem ligar que ela tenha essas esquisitices, e não de achar que defeitos não existem e, então, se desapontar quando caem as máscaras, ou quando passa o afã.
Pela sua força explosiva, a paixão é efêmera mesmo. Ninguém consegue se manter nesse estado, nessa intensidade por décadas, anos, ou seriam dias? Difícil achar uma medida de tempo, mas nem o amor consegue essa longevidade toda. Um amor que nasça de uma paixão, de uma conexão profunda formada no coração em chamas de uma estrela, é mais bonito e vivo que um amor sereno, gradativo e limpo.
Orson Welles disse que “se você quer um final feliz, isso depende, é claro, de onde você para a história.”
Pensando bem, paixão é sofrimento e um amor tranquilo é um bálsamo para a alma. O amor é seguro, confia na sua estabilidade. A paixão é onde a gente tropeça, se envergonha, faz papel de bobo e, muitas vezes, acaba sendo a causa do seu próprio ocaso.
A paixão teme o seu próprio fim e por isso se agarra à vida. Mesmo explosiva, a paixão permite que se faça amor de forma lenta, sentida, transpirando o desejo de que aquele momento não acabe nunca, nunca, nunca, que aquele enlace jamais termine. Mas tudo termina, não?
A vida é muito curta. É instável. Pode acabar de surpresa. A paixão é mais parecida com a vida que o amor.
Um universo que força você a escolher entre paixão e amor é um filho da puta, porque o melhor dos mundos é o encontro das duas coisas. Uma vida só de paixão, sem amor, é sofrida demais. Mas se insistem em tornar a paixão um veneno vil, oposta ao amor, então sou contra o amor.

Renato Kaufmann 

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